segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Zeca Diabo e o Bom Deus

José é o nome dele
Pedreira o sobrenome
E o coração é assim mesmo
Um coração partido
Mas partido bem ao meio:

Uma metade, coração de pai
Como o José, pai de Jesus
Aceita tudo, protege todos, divide tudo

Outra metade, coração de pedra:
“Se não fizer como eu quero... fora do meu mundo”

A metade pai é comandada pelo próprio coração
Já a metade pedra quem comanda é cabeça:
Có, cabeça dura
É assim desde criança

Mas o Zeca cresceu e fez escola
Escola de joalheria
E a pedreira foi virando gema preciosa

Vez por outra, ainda sobra, pra quem o telhado é de vidro,
Na cabeça uma pedrada
E pra quem não anda na linha,
No sapato uma incômoda pedrinha

Quer ser amigo do Zé?
Então seja alquimista ou lapidário
Pra enxergar um coração de ouro
Ou um diamante solitário

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Princípio da incerteza.

Os olhos do observador alteram o objeto observado.
Não precisamente os olhos mas o olhar.
Onde se escondem os desejos, as intenções.

Humanos, mal abrimos os olhos, já queremos mudar tudo.
Tudo a nossa volta.
Presente do Pai/Mãe que nunca nos satisfaz.

Mas mudar em nós alguma coisa, nem pensar.
Mais fácil mudar o outro.
Mais fácil mudar o mundo.

Mas não há culpa, não há como.
Como mudar o que não podemos observar?
Como o observador pode se observar sem cindir-se em sujeito e objeto?

Apaixonados, somos ondas que envolve e permeia tudo.
Decepcionados, somos coração transformado em partículas.
Quando gostamos, aceitamos, fechamos os olhos e tudo flui livre e continuamente.

Quando deixamos de gostar, arregalamos os olhos e soltamos fótons até que deixe de ser matéria o que não nos interessa mais.

Mas aí vem a incerteza: e a memória, como aniquiliar?
Memória, registro, elétron traiçoeiro, imprevisível e sem medida
cisma em aparecer aqui, ali.
Quando já nem nos interessa observar.

Não há mesmo como escapar.
Tudo que está fora, está dentro.
Qualquer que seja o lugar
É sempre dentro de nós.