terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Thanksgiving day

A vida é um presente
Viva hoje sem lembrar o passado nem projetar o futuro
Observe como é novo e único cada momento

Se a mente insistir em voar para trás ou para frente
Finque os pés no chão, olhe para o céu,
Ancore no presente
Não deixe a vida passar
Não se ausente

A vida nos dá tudo menos garantia
Viva hoje como se fosse o primeiro e o último dia
O primeiro, pela inocência, pelo encantamento
O último, pela sabedoria e por agradecimento

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Zeca Diabo e o Bom Deus

José é o nome dele
Pedreira o sobrenome
E o coração é assim mesmo
Um coração partido
Mas partido bem ao meio:

Uma metade, coração de pai
Como o José, pai de Jesus
Aceita tudo, protege todos, divide tudo

Outra metade, coração de pedra:
“Se não fizer como eu quero... fora do meu mundo”

A metade pai é comandada pelo próprio coração
Já a metade pedra quem comanda é cabeça:
Có, cabeça dura
É assim desde criança

Mas o Zeca cresceu e fez escola
Escola de joalheria
E a pedreira foi virando gema preciosa

Vez por outra, ainda sobra, pra quem o telhado é de vidro,
Na cabeça uma pedrada
E pra quem não anda na linha,
No sapato uma incômoda pedrinha

Quer ser amigo do Zé?
Então seja alquimista ou lapidário
Pra enxergar um coração de ouro
Ou um diamante solitário

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Princípio da incerteza.

Os olhos do observador alteram o objeto observado.
Não precisamente os olhos mas o olhar.
Onde se escondem os desejos, as intenções.

Humanos, mal abrimos os olhos, já queremos mudar tudo.
Tudo a nossa volta.
Presente do Pai/Mãe que nunca nos satisfaz.

Mas mudar em nós alguma coisa, nem pensar.
Mais fácil mudar o outro.
Mais fácil mudar o mundo.

Mas não há culpa, não há como.
Como mudar o que não podemos observar?
Como o observador pode se observar sem cindir-se em sujeito e objeto?

Apaixonados, somos ondas que envolve e permeia tudo.
Decepcionados, somos coração transformado em partículas.
Quando gostamos, aceitamos, fechamos os olhos e tudo flui livre e continuamente.

Quando deixamos de gostar, arregalamos os olhos e soltamos fótons até que deixe de ser matéria o que não nos interessa mais.

Mas aí vem a incerteza: e a memória, como aniquiliar?
Memória, registro, elétron traiçoeiro, imprevisível e sem medida
cisma em aparecer aqui, ali.
Quando já nem nos interessa observar.

Não há mesmo como escapar.
Tudo que está fora, está dentro.
Qualquer que seja o lugar
É sempre dentro de nós.

sábado, 31 de outubro de 2009

Poe-mail [Nada Original]

[From –to]
Pecado Original

[None]
Não sou nada original.
Nem mesmo sei da minha fonte.

[From:]
Quem foi que primeiro enviou
a mensagem original do que era eu?

[Forward]
Sinto-me presa, esquecida e perdida numa imensa teia,
sem subject, nem adress.

[Received]
Será que dando um reply me encontro afinal?
O fio da minha meada estará num reply simples
ou um reply to all?

[Priority]
Do meu eu essencial sobrou e-mail
Tantas vezes compartilhado, modificado.
Mensagens com frases feitas.
O que pode ser genuíno se tudo já foi feito?

[Inserts]
O pecado original está no refeito, malfeito, rarefeito
Desfeito de tudo que de Deus veio perfeito!

[Highest]
Check names and remove options Cc:; Bcc:.
[send me a Direct Bless. Help me find my real file]

Dando tempo ao tempo.

Quem disse que o tempo passa
Anda desatento

O tempo, como tudo o que existe, quer atenção
Dedicação

Descobri que se consigo parar e observar o presente
O tempo também pára
Não quer mais fugir
Escapar de mim

Não é por maldade que o tempo
Coloca ruga em nossos rostos
Dores nas nossas juntas
Brancos nos cabelos

Como todos nós, o tempo só faz isso para atrair nossa atenção,
Se fazer percebido
Para lembrar-nos de que ele existe
E que nós, sem ele, não existimos

Se o tempo decidir parar
É o fim da linha
Da nossa linha
Não a do tempo

Por isso, agora,
Estou compartilhando meu tempo
Com o tempo

E tudo aconteceu assim:
estava no trânsito e o tempo correndo,
mais do que qualquer outro veículo à minha frente
De repente soprou um vento
Um vento fresco, neste calor intenso de São Paulo
Sorri e, olhando o nada fixamente,
Vi o tempo passando lentamente
Tão devagar que poderia prendê-lo

Mas não,
Deixei-o livre
Como um pássaro de grandes asas

Seria um anjo?

Nos olhamos primeiro de canto de olhos
Logo depois, olhos nos olhos

Que mágico encontro
Nos encantamos
Observando um ao outro
Sem pensar em mais nada
Sem julgar
Só observar e sentir

De lá pra cá
É frequente me pegar feito adolescente
O peito palpitante
Não vendo a hora de encontrar o tempo

Se bem que,
Tão encantada,
Em tudo que faço
Em tudo que penso
Vejo o tempo

E que grande descoberta
Nunca tive nada
Nem ninguém tão disponível para mim
Feito o tempo

Aqui
Agora

No momento em que eu quiser
Basta um piscar de olhos e o tempo,
Amigo,
Amante,
Não quer mais passar pra mim

O tempo não passa
Se eu estiver presente

Um conto. Um ponto.

Minha vida seria um conto,
Se não fosse só um ponto do universo
No contínuo espaço-tempo
Às vezes um ponto de luz
Quase sempre um ponto obscuro.

Caminho interrompido
Pontos de intersecção
Ponto de encontro sem ponto de fusão.

O mundo todo .com
E eu, ponto sem nó.
Nó na garganta
Ponto fraco
Ponto crucial
A ponto de entregar os pontos
Ponto de fuga.

Meu ponto de vista se perde na ilusão
Ponto de interrogação
A vida não é um ponto de permanência
Só uma viagem ganha em pontos de milhagem
Ponto de transição.

Meu sonho não tem ponto cardeal
Dormi no ponto
Passei do ponto
Perdi o ponto de referência,
O ponto de contato
Um ponto de apoio
Para ligar os pontos.
Cair na real é o tombo que dói mais.

Do ponto de ebulição ao ponto de bala
Antevejo o ponto de ruptura
Ponto de mira
Auto-destruição

Ponto por ponto
Do ponto de partida ao ponto final
Busco um ponto de equilíbrio
Encontro um ponto de dor

O ponto final é sempre um ponto indivisível
Ponto morto
Solidão

Rimas de joalheiro

Tentei escrever seis
Dos setenta e dois nomes de Deus

Não deu certo
Não deu em nada
Mas nada também é Deus

Usei titânio e o dedo do Zé
Com o fogo que tudo transforma
Transformei Deus num tirano
Encontrei o outro lado de Deus

Tanta serra, tanta lima, tanta lixa
Poli tanto o os nomes viraram cinza
[Zeca Diabo]

Oh! Ira.
Revolta
Blasfêmia
Da criação fui ao caos
Mais fácil desfazer do que fazer
Mas só se desfaz o que está feito
Bem feito

Era um marcador de livro [Sepher]
E o Marco ficou sem marcador
Melhor assim
O Marco sem marcador
É um Marco sem dor
Diz a lenda que mudar um símbolo sagrado
Leva o bem e traz o mal