sábado, 31 de outubro de 2009

Poe-mail [Nada Original]

[From –to]
Pecado Original

[None]
Não sou nada original.
Nem mesmo sei da minha fonte.

[From:]
Quem foi que primeiro enviou
a mensagem original do que era eu?

[Forward]
Sinto-me presa, esquecida e perdida numa imensa teia,
sem subject, nem adress.

[Received]
Será que dando um reply me encontro afinal?
O fio da minha meada estará num reply simples
ou um reply to all?

[Priority]
Do meu eu essencial sobrou e-mail
Tantas vezes compartilhado, modificado.
Mensagens com frases feitas.
O que pode ser genuíno se tudo já foi feito?

[Inserts]
O pecado original está no refeito, malfeito, rarefeito
Desfeito de tudo que de Deus veio perfeito!

[Highest]
Check names and remove options Cc:; Bcc:.
[send me a Direct Bless. Help me find my real file]

Dando tempo ao tempo.

Quem disse que o tempo passa
Anda desatento

O tempo, como tudo o que existe, quer atenção
Dedicação

Descobri que se consigo parar e observar o presente
O tempo também pára
Não quer mais fugir
Escapar de mim

Não é por maldade que o tempo
Coloca ruga em nossos rostos
Dores nas nossas juntas
Brancos nos cabelos

Como todos nós, o tempo só faz isso para atrair nossa atenção,
Se fazer percebido
Para lembrar-nos de que ele existe
E que nós, sem ele, não existimos

Se o tempo decidir parar
É o fim da linha
Da nossa linha
Não a do tempo

Por isso, agora,
Estou compartilhando meu tempo
Com o tempo

E tudo aconteceu assim:
estava no trânsito e o tempo correndo,
mais do que qualquer outro veículo à minha frente
De repente soprou um vento
Um vento fresco, neste calor intenso de São Paulo
Sorri e, olhando o nada fixamente,
Vi o tempo passando lentamente
Tão devagar que poderia prendê-lo

Mas não,
Deixei-o livre
Como um pássaro de grandes asas

Seria um anjo?

Nos olhamos primeiro de canto de olhos
Logo depois, olhos nos olhos

Que mágico encontro
Nos encantamos
Observando um ao outro
Sem pensar em mais nada
Sem julgar
Só observar e sentir

De lá pra cá
É frequente me pegar feito adolescente
O peito palpitante
Não vendo a hora de encontrar o tempo

Se bem que,
Tão encantada,
Em tudo que faço
Em tudo que penso
Vejo o tempo

E que grande descoberta
Nunca tive nada
Nem ninguém tão disponível para mim
Feito o tempo

Aqui
Agora

No momento em que eu quiser
Basta um piscar de olhos e o tempo,
Amigo,
Amante,
Não quer mais passar pra mim

O tempo não passa
Se eu estiver presente

Um conto. Um ponto.

Minha vida seria um conto,
Se não fosse só um ponto do universo
No contínuo espaço-tempo
Às vezes um ponto de luz
Quase sempre um ponto obscuro.

Caminho interrompido
Pontos de intersecção
Ponto de encontro sem ponto de fusão.

O mundo todo .com
E eu, ponto sem nó.
Nó na garganta
Ponto fraco
Ponto crucial
A ponto de entregar os pontos
Ponto de fuga.

Meu ponto de vista se perde na ilusão
Ponto de interrogação
A vida não é um ponto de permanência
Só uma viagem ganha em pontos de milhagem
Ponto de transição.

Meu sonho não tem ponto cardeal
Dormi no ponto
Passei do ponto
Perdi o ponto de referência,
O ponto de contato
Um ponto de apoio
Para ligar os pontos.
Cair na real é o tombo que dói mais.

Do ponto de ebulição ao ponto de bala
Antevejo o ponto de ruptura
Ponto de mira
Auto-destruição

Ponto por ponto
Do ponto de partida ao ponto final
Busco um ponto de equilíbrio
Encontro um ponto de dor

O ponto final é sempre um ponto indivisível
Ponto morto
Solidão

Rimas de joalheiro

Tentei escrever seis
Dos setenta e dois nomes de Deus

Não deu certo
Não deu em nada
Mas nada também é Deus

Usei titânio e o dedo do Zé
Com o fogo que tudo transforma
Transformei Deus num tirano
Encontrei o outro lado de Deus

Tanta serra, tanta lima, tanta lixa
Poli tanto o os nomes viraram cinza
[Zeca Diabo]

Oh! Ira.
Revolta
Blasfêmia
Da criação fui ao caos
Mais fácil desfazer do que fazer
Mas só se desfaz o que está feito
Bem feito

Era um marcador de livro [Sepher]
E o Marco ficou sem marcador
Melhor assim
O Marco sem marcador
É um Marco sem dor
Diz a lenda que mudar um símbolo sagrado
Leva o bem e traz o mal

Circo de emoções

O centro do picadeiro
Não é o lugar mais divertido
Do circo

A descontração e risada da arquibancada
São provocadas pelo não entendimento,
não envolvimento com o conteúdo da mensagem.

Só pode rir, só pode se divertir,
quem está do lado de fora.

Fora do alcance do fogo do sentimento.
É o lado cômico da tragédia.

A vida em movimento

Vida
Movimento
Lento
Sentimento
Dentro
Tanto tempo
Tento

Tudo muda
Tudo passa
Muda
Passa
Esgarça
Ameaça
Fumaça

Recomeça
Tudo
De novo
Ovo
Tudo novo

Muda a forma
Muda a fôrma
Reforma
Transforma

Mundo vira
Tudo vira
Vira mundo
Vira tudo
Vir a ser

Terra gira
Roda
Viravolta
Volta e meia
Meia volta
Gira
Girassol

Sol
Gira Sol
Gira geia
Gira
Gera

Novo
Sentimento
Dentro
Movimento
Lento
Tanto tempo
Tento
Vir a ser
Vida

O certo por linhas tortas.

Pipa colorida, sobe, sobe, vai pra longe
Leva meu sonho ao sabor do vento lá pra perto do céu

Que meu sonho é ter pés no chão.
Chão batido, gramado
Mãos na terra
Plantar, regar, ver a terra florir,
Produzir,
Se transformar.

O milagre da vida não acontece entre as 4 paredes
De um apartamento no alto do 7o. Andar.

O milagre da vida acontece na terra descoberta,
Viva, pulsante
Sem asfalto, sem cimento

Quero andar de pés descalços
Sentir minhas raizes
Mordidas de formiga
Espinho no dedo
Beijo de borboleta
Medo de aranha

Ver a verdade acontecendo na flor que desabrocha,
No inseto que interage com a planta,
No passarinho que canta
Anunciando o nascer e o pôr do sol.
O resto é ilusão, mentira da televisão.

Se Deus escreveu o certo por linhas tortas
Quero entender a lógica da natureza
Que não tem linhas retas

Quero uma vida mais orgânica,
Menos artificial
Quero inventar minhas estórias
Olhando as nuvens no céu não a tela do computador

Quero abrir minha janela e enxergar o horizonte
Com todos os matizes de cores
De que se pintam o céu e a terra
A cada segundo, 24 horas por dia.

Quero ver a chuva cair, fecundar o campo
E espargir o ar com o cheiro da terra molhada.

Quero um dia pleno de natureza.
De mim mesma.

Pipa colorida prende meus pés ao chão
Eleva meu sonho aos céus.
Já que sempre ouvi dizer:
Assim na terra como no céu.

É cedo ainda

"É cedo ainda"
Mágicas palavras
Mesmo não falando do tempo em si
Ele simplesmente parou de existir
No cronomecanismo funcional da minha cabeça
Num passe de mágica não me preocupei
Me esqueci totalmente das horas que passavam.

Minutos depois... Ou seriam horas.. dias... milênios...
Descobri que o meu racional é limitado pelo tempo
E que meu emocional é atemporal

"É cedo ainda"
Não foi uma simples expressão,
Foi uma ordem para que tudo parasse e apenas espreitasse

Por um instante infinito me senti mais importante
que o passar do tempo
Enquanto viajávamos para dentro de mim
As horas não passavam,
Simplesmente passeavam

Se é cedo ainda, posso tudo
Porque o tempo todo
Cabe dentro do que ainda é cedo

Dois em um

Um só é muito só
Um + Um dá um par perfeito
Perfeito para dialogar
Pra dividir cama e sofá
Pra rimar sonhos, construir versos,
Pra fazer tim-tim com taças de champanha
Pra perguntar e ouvir resposta

A dois, um contém o outro
Um motiva o outro
E dois juntos vão mais longe

A dois tudo é mais gostoso, tem mais sabor
Abraçar, beijar, dar risada
Dormir enroladinho

Buscamos todos a individualidade
Mas só não, se vai longe
Não se chega lá, sem a cumplicidade que é ser a dois

Encontro

Desconfio que ainda não encontrei o que procuro
Na verdade nem mesmo sei o que procuro

Sempre achei que procurava o amor
Mas quando o encontro me perco em paixões

Paixões são o avesso do amor
Provocam desassossego
Desencontros

Quando me procuro no outro me perco de mim
Talvez devesse me encontrar primeiro
Mas como fazer
Se meus olhos
Meus sentidos
Meus desejos
Se perderam a procurar o que está fora de mim

Rotina

Rotina é acordar de manhã e ver-se não o mesmo,
mas diante de um mesmo espelho!

Houve um tempo em que olhavamos nosso descansado
e renovado aspecto no reflexo dos lagos, riachos e rios
que, tão naturais, tão únicos, sempre levavam para longe
de nossos rostos qualquer sombra de tristeza ou desgosto.

Rotina é comer pão dormido, margarina congelada,
tomar leite enlatado.

Houve um tempo em que nos servíamos de alimentos
colhidos na hora, ofertados com tanta generosidade
em sabor e frescor.

Rotina é ferir nossos ouvidos
com os barulhos das nossas inventivas,
repetitivas e monocórdias máquinas.

Houve um tempo em que despertávamos
com o canto dos passarinhos.
Suave e renovada melodia,
ensejando um feliz dia.

Rotina é ir para o mesmo e maçante trabalho,
equilibrando nosso corpo sem eixo por calçadas mal ajambradas.
Passar o dia entre quatro paredes,
guidados por fakes relógios digitais.
Ouvir as mesmas conversas sobre um feito qualquer,
as mesmas reclamações sem objetividade,
sem busca reais por soluções.

Rotina é voltar para casa de cabeça baixa
ao fim de um mecânico dia.
Sentar no sofá, dar um play na tv
e ficar extasiado diante das mesmices,
das caretices e de uma infinidade de más notícias.

Houve um tempo em que sabíamos contemplar
os sempre novos nascer e pôr do sol.
Admirar-se diante da natureza,.
Belo quadro que nunca é o mesmo,
nunca se cansa de se aprimorar, só para nos encantar.

Uma folha que cai, uma borboleta que pousa numa flor,
uma flor que se abre, um fruto que se oferece,
o sol que brinca de esconde-esconde entre as nuvens,
uma revoada de pássaros,
uma onda que vem mais forte,
outra que acaricia a areia,
a lua que desponta,
o brilho das estrelas.

Nosso olhar esquecido se perdeu
na rotina das nossas invenções
sem enxergar como é novo
cada segundo de cada dia.

Rotina é mergulhar embevecidos com nossas “criações”
ignorando as dádivas que nos chegam a cada instante
de um Criador que não se repete e não tem ninguém para plagiar.

Rotina é fruto de nossa soberba, de nossa falta de humildade,
de nossa falta de conhecimento e reconhecimento
de que somos muito pouco ou quase nada.
Uma semente que, por se achar perfeita,
se mantém fechada e incompleta.

Rotina.
Prisão criada pelo homem, tão insignificante
diante do infinito renovar da Natureza.

Poema Cabalístico

Ando a errar por este mundo desde o início dos tempos,
Já visitei os quatro reinos e de todos,
Tenho uma herança gravada em mim.

Um leito de rio de muitas quedas
E afluentes errantes,
Buscando encontrar o Oceano.

Não que eu não saiba o caminho.
Já o refiz tantas vezes.
Tantas quantas também já me perguntei:
De onde vim? Para onde vou?

Mas é que os encantos das margens
sempre me prendem a atenção.
Me tiram do centro e,
numa fração de segundo,
se vai por água abaixo a intenção.

Um caminho de perdição
é o percurso de meus ancestrais.
Tantos espelhos a me refletir.
E o outro não é ninguém.
Apenas mais uma versão de mim.

Preciso ser todos para me tornar UM.
E para ser todos tenho que ser nenhum.

Mas a cada desejo, quem nem é meu,
me afronta um novo eu.
Multidão implacável
que um dia terei de enfrentar.

Mas prossigo fugindo,
dando um tempo.
E como criança me distraio a brincar.
Buscando pelas estrelas,
entretida pelas conchinhas do mar.

Um dia, lá no princípio,
minha missão era cuidar de um magnífico jardim.
Mas diante de um palácio tão suntuoso, reclamei.
Achei pouco.

Sem credenciais para o Palácio,
nem interesse pelo Jardim,
vivo a mendicar na soleira da porta,
apontando ora o bem, ora o mal.

Quanto erro, quanta ilusão.
Já me bate a solidão.
Ergo-me aos céus já em prece
e um sentimento me diz
que é preciso ir mais fundo.
Pois no conforto da superfície
mais subo e me confundo
nesta Torre de Babel.

Bem-vinda seria a Morte.
Não a do corpo, que esta também é ilusória
e pode me pegar no sono.
Mas a morte consciente
de tantos apegos às sensações
e ilusões dos meus cinco sentidos.
Abrir mão do sofrimento
de insanos desejos
e me entregar a uma única Vontade

Recomeço.

O ponto onde tudo começa
é um Marco

E onde tudo termina
Serafim?

Não que eu esteja começando agora
E muito menos terminando

Estou apenas voltando
Passo a passo
Ao começo de mim

Ao marco do meu tempo
Tentando romper
As fronteiras
Ultrapassar os imites
Ou começar
Tudo de novo

Um recomeço
É um renascer
Renato?

Difícil dizer
Ainda mais compreender
Os marcos
do meu conhecimento

Será que ao menos
Tenho salvação?

Quem me salva?
Salvador?

Mas por agora
Não penso em desistir

Vou em frente
Olhando
Por todos os ângulos
Girando a roda da minha
Fortuna
Rolando

Quem sabe
No meio do caminho
Ou o fim
Eu encontre um novo começo
Um novo Marco


Ou, quem sabe, um
Bonfim
Que, ser for bom mesmo,
Vai ser marcante
E sendo assim será
Um Marco.

Felicidade

Felicidade é miragem
Brisa que sopra
Aragem que só me roça
Inebria
Brinca de esconde-esconde
Toco os pés no chão
Ela foge
Ilusionista

Frágil libélula
Leve
Translúcida
Efêmeras cores
Num sopro se desfaz
Pra onde vai a beleza do que foi?

Sentimento tocante
Ao mesmo tempo
Intocável Impalpável Imponderável

Onde se guarda o que se sente?
E o que se sentiu, onde se põe?
Bolha de ar?
Bolha de sabão?
Puff!
Lá se vai tudo o que eu quis

Mas se não há
Felicidade
Não há de haver o seu
Revés
E então, como posso ser infeliz?

Talvez felicidade não seja Ser
Apenas Ter ou Estar
Mais fáceis de conjugar
E assim, por ora, hora e meia
Posso Ter a felicidade
Posso Estar feliz!

Um tempo, duas medidas.

Estranho como um mesmo período de tempo
Pode ter leituras e pesos diferentes.
Nós dois de férias ao mesmo tempo.
Você na Europa, eu na Bahia, por 15 dias.

Minhas férias passaram assim num átimo.
E as suas, que ao tempo foi acrescida a distância,
parecem não mais ter fim.

Sem pés nem cabeça.

Desconfio dos meus pés.
Sem senso de direção, nunca sabem pra onde ir.
Fingem seguir minha cabeça e
acabam indo pra onde quer meu coração

Desconfio também das minhas mãos.
Querendo alcançar o impossível
disfarçam fracassos repetidos em trêmula traição.

Também não posso confiar em meus olhos.
Buscam sempre o infinito
E nada enxergam além do que vêem.

Quanto à minha boca, lhe cairia bem o silêncio.
Tantos enganos tentando colocar em palavras
sentimentos que não tocam ninguém.

Desconfio da minha cabeça
sempre com uma razão
pra desbancar minha emoção.
Guarda tudo que devia esquecer.
Esquece tudo que devia lembrar.

Por outro lado, como posso confiar no meu coração
que se enrosca em fantasias, feito cipó,
Iludindo minha cabeça?

Como orquestrar instrumentos tão desafinados?
Será confiável minha alma
Para arbitrar esse eterno duelo?
Pobre coitada, tão etérea se perdeu na matéria.
Não se lembra de onde, nem a que veio.
Como saber pra onde ir?

E assim sigo vagando,
Ora espada, ora dragão.
Entre razão e emoção,
Meu querer não tem poder.

Portas da minha alma

Quantas portas tem minha alma?
Cansei de só debruçar meio corpo em janelas.
Quero portas.
Muitas.
De par em par. Abertas.

Chão sob meus pés
Firme.
Caminho amplo para correr ao encontro do novo.
Novo olhar, novo pensar, novo sentir, novo sonhar.
novos ares, novo ovo.
Nascer de novo.
Nova ciência do mundo e de mim.

Pronto. Estou pronta.
E o que me faz assim é o querer.
Querer é a matéria do sonho.

Do mundo quero paz
Quero tudo que for belo
Quero flores, aromas, jardins.
Quero poesia no dia a dia.
Rimar tudo com alegria.

De meus pais quero a garantia do sorriso.
Largo, franco, alvo e fácil.
Senão, com que boca vou a Roma?

Que me lavem do ungido óleo da culpa.
Santa cruz em minha testa.
Via crucis.
Libertas quae sera tamem.

Dos amigos quero presença
Palavras, músicas, risos.
Ombro e diversão.

Do meu homem quero amor
Cumplicidade.
Tato e bons tratos.
Corpos e almas,
Tudo compartilhado.

Da morte quero um tempo.
Da vida o brilho do sol, o ar pra respirar.
Fogo do entusiasmo no coração, na alma, na carne.

Pronto. Estou pronta.
Em estado de graça,
Pronta para ser.
De portas abertas para receber o que vier
E doar o bom de mim.

Pernas, pra que te quero duas.

pernas
pra que te quero duas

pra caminhar
seguir em frente
buscar caminhos
diferentes

pernas
pra ir e vir
partir e voltar

pernas pra esticar
pra cansar
e descansar

pernas em compasso
pra marcar o passo
pra ritmar
rodar
no samba
no rock and roll
num
último
tango
em paris

pernas pra bater
pernas pra ter prazer
no ato e no tato.

pernas pra correr
na fuga
e na busca

duas
pra virar
de pernas pro ar

pernas pra circular
descer e subir
usar meia de seda
vestir saia curta

duas
pra desfilar
esconder
revelar

pernas pra exibir
cruzar
seduzir


duas
pra me equilibrar
pra não claudicar

abrir e fechar
ajoelhar
rezar
e pecar

duas
pra ser normal
pra ser igual
porque o bom da vida
vem sempre a dois

Pedra Fundamental.

Fundamental como a pedra é a mão.
Que cuida, apóia, contém.

Mão alquímica.
Toca sentimentos,
Transforma emoções.

Mão Confiável.
Gentil.
Límpido cristal
Vai além, descobre e abre o caminho
Do meu Jardim Interior.

Pedra Filosofal
Marco principal
Força motriz
Meio, princípio, fim.

Pedra guardiã
Mão fundamental
Vital conexão
Toca a pele
Alcança o espírito
Abre o portal do divino ao mortal

Quem sou eu, afinal?

Um ser ÚNICO ou DUAL?

Sou um ser único quando experimento
minha consciência fazendo uma escolha.

Sou dual quando experimento minha escolha
alterada e transformada em realidade
pela decisão da minha inconsciência.

Preciso ser dual para materializar, dar forma,
plasmar anseios, sonhos e desejos.
Que nem mesmo sei se são meus.

Só consciente, fico só na imaginação. VIRTUAL.

Também não posso ser só inconsciência.
Porque então me faltaria a matéria, o tempo. REAL.

Serei então a somatória do meu inconsciente, que tudo sabe,
e do meu consciente que, a partir de todo saber aprende,
por uma ótica diferenciada, criando experiências únicas?

Ou será meu consciente o QUERER
e meu inconsciente o PODER?

Quando conscientemente penso,
sou imaginação, acessando, aleatoriamente,
a fonte do meu saber inconsciente que por ser IN,
indica estar contido em uma consciência maior. TOTAL.

Quando medito, sou PRESENÇA
Observo pensamento virar sensação e vice-versa
Tomo consciência do inconsciente

Quando sonho, sou uma mistura dos dois,
sugerindo cada um, uma possibilidade diferente,
encaixando o real no irreal. SURREAL.

O meu não saber, o meu eu aprendiz,
é o criativo que impulsiona, o já sabido pelo meu inconsciente,
a ganhar novas formas, novos aspectos. SER ÚNICO.

Mas será esta inconsciência minha,
uma consciência coletiva, CÓSMICA?
Uma ciência comum a todo ser pensante?
Mente quântica e criativa não local.

Eu, um local.

Uma simples mídia onde a consciência cósmica,
veicula um filme, com roteiro específico,
sendo eu mesma veículo-filme-protagonista.

Sendo assim não sou um ser único nem dual. Sou mais.
Sou o cinema onde passa o filme da minha própria vida,
estrelado por mim.
SOU ESTRELA.

Assim, sou três, dois ou um. Ou três em um.
Tudo ao mesmo tempo. TRÍADE.
O CÁLICE É O CONTEÚDO DO SI MESMO.
SER-CONTER-ESTAR-CONTIDO

Mas se posso ser um, dois, três,
talvez possa ser ainda mais.

Posso talvez ser uma pequena face
dos multifacetados olhos de Deus,
que microcosmicamente, em mim
e em tudo o que existe,
recria o macrocosmo a cada instante.

Deus em mim cansado de tudo saber,
querendo reaprender, recomeçar,
inventar tudo de novo.

Assim, se por um momento Deus me esquecer
deixo de ser. Passo a ser nada.
Fico novamente só na imaginação.
Inconsciente sou IN DEUS
Consciente sou sem DEUS
mas a um passo de voltar a Ser

Por enquanto sou Ego que se acha senhor de tudo.
Intérprete da minha cons e inconsciência.
Perdido entre querer e poder
Saber sem sabedoria.

SER EGO é a minha condição
de SER CONDICIONADO.

Preciso deixar soprar o vento do acaso
Para que as coisas mudem de lugar
Sem passar por lugar algum
SALTO QUÂNTICO.

Preciso ir para a INCONSCIÊNCIA
para erguer o véu que esconde meu verdadeiro eu.
CONSCIENTEMENTE.

Ai, meus eus!

Tanta coisa pra pensar
Tanta coisa por fazer
E meu coração quer dar um tempo
Minha alma quer sossegar

Penso ou contemplo?
Busco ou aguardo?
Falo ou silencio?

Meus eus tão diferentes
Precisam se harmonizar

Que tempos são esses
Tem sido a humanidade todo tempo assim?
O que realmente buscamos?
O que realmente queremos?
O que realmente somos?

Abandonados pelo livre arbítrio
Inseguros pelo medo de errar
Errados pela falta de medo.

Medo de que?

Não sei do que tenho medo.
Mas tenho medo do que não sei.

Não sei se posso ou não posso
Não sei se me iludo, me desencanto
Não sei se prometo e não cumpro

Não sei se é fantasia ou realidade
Não sei se confio, se sou confiável
Não sei se falho e decepciono

Não sei se persisto ou esqueço
Não sei se perdôo e sou perdoada

Não sei como sou sem os limites da razão
Não sei se vou ser aceita ou rejeitada

Não sei se sou compreendida ou mal interpretada
Não sei se provoco riso ou embaraço

Não sei se sou o que pareço
Não sei o que pareço ser

Não sei se consigo ter e manter
Não sei se vou ser esquecida, abandonada

Não sei se agüento fracassar
Não sei se agüento perder

Não sei se sei quase nada
ou se não sei muita coisa.
Não sei, se eu tenho o medo
ou se é o medo quem me tem.

Jogo de palavras

A palavra pode significar a ocasião.
Mas é a ocasião que dá sentido à palavra.

Incrível como uma mesma palavra
dita pela mesma pessoa
pode num momento significar tanto
e num outro não dizer mais nada.

Uma palavra tão cheia de sentimento
Pode, de um momento para o outro,
perder todo o significado.

Quem dá sentido à palavra
não é a boca que fala, mas o ouvido que escuta.

A palavra que se perdeu de ouvir
num dado momento
perde o sentido na repetição.

O verdadeiro significado das palavras está
nos olhos e não na boca de quem as diz.

As palavras não ditas podem
não alcançar os ouvidos,
mas certamente atingem a alma.

Nem sempre o que se fala é o que se quer dizer.
Nem sempre o que foi dito é o que se ouve.

Quando um sentimento não cabe nas palavras
ele ocupa as entrelinhas.
E acaba escapando pelos olhos.

Um efeito pororoca acontece quando o falar e o sentir
se encontram num mesmo momento,
numa mesma boca.

Nenhuma palavra pode conter
tanto significado quanto o silêncio.

Doem-me muito mais as palavras que não escutei
e que cismam em ficar repetindo dentro de mim.

Hoje, em alguns programas de computador,
as palavras são lidas como imagem.
Será vingança contra os que dizem
“uma imagem vale mais do que mil palavras”?

A boca pode traduzir em palavras
o que sente o coração,
mas jamais conseguirá interpretar
tão bem quanto os olhos.

Todas as palavras não ditas cabem num único olhar.

As palavras que não conseguimos dizer,
param na boca do estômago,
pesam sobre a cabeça, saltam aos olhos ,
endurecem o coração, amargam a vida e sufocam a alma.

Entre uma boca e um ouvido conta mais a intenção
que propriamente a palavra.

A boca leva a mensagem aos ouvidos.
Os olhos, ao coração.

Seus olhos me contam muito mais
do que pode me dizer sua boca.

Uma cara, dois sorrisos:
o pensado está boca,
o sentido está nos olhos.

Silêncio

Sem pensamento
Sem vontade
Sem fazer
Sem querer
Sem sonhar

Cérebro vazio
Alma solta,
Só vou fazer o que minha alma quiser
Só vou ser o que minha alma mandar.

Ouço a música que toca no rádio
Ouço a chuva fina e fria que cai lá fora.
Fim de inverno.

Longo inverno é a solidão.
Estou entre dois tempos
Entretempos

Aí vem a primavera.
Minha primavera 2
Será a dois?
Será que vai brotar a flor do amor?

Não sei o que quero
Não sei pra que quero.
Não quero a tristeza
Não quero o vazio
Não quero a solidão

Talvez o sorriso
Talvez a alegria
Talvez um novo prazer de ser.

Mas por hoje sei o que quero:
ficar em silêncio
Quieta
Deixar passar a fome
Sem vontade de comer.
Deixar as coisas acontecerem
Por si mesmas, na conspiração do universo
Quem quiser que me ligue
Quem quiser que me procure
Quem me quiser que me encontre

Ainda não é tempo
Ainda não chegou meu tempo
Espero pra ver
Espero pra ser

Estou dando um tempo
Passando a limpo meus poemas
E a minha vida.
Tantos anos vividos e ainda não sei quem sou
nem pra que estou

Mas há de acontecer
Há de haver um bom motivo
Para eu estar aqui.

Estou só
Ou sou só?
Não tenho compromisso
Não tenho vínculo
Tanto faz partir ou ficar

Há muito não tinha pai
Agora também não tenho mãe
Quem vou seguir agora?
A quem vou servir agora?

Por onde vou?
Pra onde vou?
Com quem vou?
Triste é o caminho sobre a terra.

No meio do caminho havia um jardim.

Não existe o dia se não houver a noite.
Não existe o bem se não houver o mal.
Não existe o branco se não houver o preto.
Não existe um caminho que leve à luz
que não seja a escuridão.

É o que dizem todos os anais de psicologia e filosofia,
todas as lendas, todas as histórias do mundo.
É o que o homem sempre disse e continua dizendo,
sobre os percalços da mente, coração e alma humanos.

Não seria isso também uma crença.
Um padrão que se acredita
e que se tem como verdade de tanto repetir?
Mecanicidade.

Já não estará vencida esta teoria.
Já não estariam todos esses modelos no ponto de inércia,
precisando um empurrãozinho?
Afinal, se a vida é movimento como pode haver
verdades absolutas, imutáveis.

Tenho comigo que o que não existe mesmo
é pergunta sem resposta.
Pois a própria existência da dúvida
pressupõe que existe um ângulo
por onde ainda não se olhou,
um caminho que ainda não se trilhou.
Um simples “por que?” pode mudar tudo,
ou pelo menos diminuir o poder do que até então
tem sido visto como certeza.

Voltemos então aos opostos dia e noite, bem e mal,
branco e preto e até mesmo amor e ódio.
Entre o dia e a noite existe uma infinidade de momentos
nem tão claros, nem tão escuros.
Entre o bem e o mal existe uma infinidade de possibilidades
nem tão boas, nem tão más.
Entre o branco e o preto existe um infinita gama de cores
nem tão claras, nem tão escuras.
Entre o amor e o ódio existem infindáveis sentimentos.
Será mesmo que preciso experimentar o ódio
para provar do verdadeiro amor?

Se for assim, então preciso morrer
para realmente viver.
E não me adiantaria nada a morte simbólica,
pois então eu só viveria simbolicamente.
Ou então eu pergunto.
O que são a vida e a morte realmente?

Se me serve o simbolismo,
creio que o mundo me oferece uma infinidade deles
e que necessariamente não preciso vivenciar.
Está aí a violência nas ruas.
Preciso sofrer um assalto ou um estupro
para saber me defender?
As agressões à natureza estão aí,
por todos os lados.
Preciso derrubar uma árvore,
conspurcar um rio para saber lhes dar valor
e respeitá-los como seres vivos?

Se me serve o simbolismo,
estão aí milhares de filmes sobre todos
os temas e sobre todas as relações humanas,
em forma de dramas, comédias, tragédias etc. etc.
Não poderia eu passar pela purgação, sem degustação?
Espiando apenas através da tela do cinema?

O que acontece é que fomos doutrinados
para ser bonzinhos, para ficar sempre do lado do mocinho,
para assumir o papel da vítima.
Por que nunca nos colocamos na pele do bandido?
Por que assim, com tantos maus sentimentos,
tantas más intenções o mundo estaria perdido?
E o que fizeram do mundo as boas intenções?
Produziram ressentimentos, ódios mal contidos,
violência de todos os tipos, guerras, destruição.

Na verdade bem e mal só existe mesmo aqui,
dentro de cada um de nós.
Bem e mal é apenas uma interpretação
que serve mais a um arranjo social,
assim como são os modelos de relacionamento
tão esgotados, tão falidos.

Uma visão tão “sociedade, família e propriedade”
que, com o passar do tempo, as pessoas
passaram a ser nada mais do que posses umas das outras, propriedade particular, um produto
com data de validade também estipulada
pela mesma sociedade manipuladora.
A necessidade do ter aprisionou a liberdade do ser.

As asas da nossa natureza foram amputadas
e ficamos todos sem a referência básica,
submetidos ao comportamento artificial.
Será o homem tão poderoso assim que já pode
definir o modelo ideal de “ser humano”?

Não será isso onipotência?

Os opostos sempre se chocam,
se atraem na tentativa de sufocar,
destruir uns aos outros.
De tanto sermos obrigados a ficar do lado “bom”,
somos constantemente atraídos pelo lado oposto.
E se formos para lá podemos gostar e até preferir o lado “mau”, sádico, sujo, o submundo.
Por que tudo é uma questão de ponto de vista.
Muda-se o lado. Mudam-se as referências.

Será então que na eterna busca de nós mesmos
não haveria um caminho do meio?
Será que não há um caminho composto de muitas cores?
Nem meia noite, nem meio dia, nem a falsidade do muito bom,
nem a violência do muito mau,
nem a ignorância do amor/ódio possessivos.
Não seria tudo uma questão de aceitação?
Ser imparcial diante dos opostos. Afinal é tudo transitório. Impermanente.

Mito por mito, porque não o do paraíso?
Que tal um jardim como caminho?

(Não penso em um “ mar de rosas”. Mas um jardim natural, com flores, espinhos, insetos, aranhas, serpentes, sei lá.
O importante é que seja natural, onde tudo tem seu espaço e seu tempo.
A hora, poderia ser a do crepúsculo com todas as possibilidades do dia e da noite pela frente.
A luz seria a da entrega, quando a Lua repousa
entregue ao brilho e calor do sol
que começa a despertar o dia.
As cores? Seriam todas.
A gama infinita da paleta divina.

Um jardim como começo.
O estado natural das coisas.
[Reza a lenda que viemos de um jardim (o Éden)]
Reunindo a firmeza da Terra, o poder do Fogo,
a clareza da Água e a leveza do Ar.

Um jardim como meio.
Existe lugar mais agradável do que um jardim
para nos distrair das nossas mágoas,
afugentar nossa ansiedade, acalmar
nossos corações e nos ajudar a reencontrar
nosso lugar na natureza?
A magia de um jardim apura nossos cinco sentidos
e é capaz de nos transportar para dentro de nós mesmos,
dos nossos sonhos mais secretos.

Um jardim como fim.
O retorno.
Enfim nos encaixamos,
como pecinha de quebra-cabeça,
tornando-nos novamente um com o Criador.

Será que a purgação do herói
não vem do fato de querer inventar
um jeito novo de desvelar o mito da criação
quando na verdade já está tudo inventado?

O nosso constante abrir e fechar de olhos
talvez não seja um simples e mecânico piscar.
Talvez tenha o objetivo maior
de fazer com que mudemos nosso foco.
Mesmo percorrendo o mesmo jardim
por onde viemos, voltamos a ele por um outro lado,
olhando com outros olhos,
de outros pontos de vista,
reaprendendo a ser o que realmente somos.
Reencontrando a nossa essência.

Enfim, certo ou errado, tanto faz.
Acho que o questionar coloca sempre
um novo portão à nossa frente.
E atrás dele, bem que pode estar um jardim.
De tulipas, alfazemas, malmequeres, heras, miosótis, rosas, girassóis… E toda a infinita e bela variedade do reino vegetal.
Por que não?

Hoje é o melhor presente que posso dar ao meu futuro.

Sempre vivi urgências.
Tudo era pra ontem.
E eu não via a hora de que o dia passasse rápido.
Ansiava pelo fim dele e o começo de um novo, diferente.
Não tão urgente e mais prazeroso.

E assim, deixava o dia correr ansiando que o tempo
levasse para o passado o que não era bom.
E o bom era sempre uma promessa de futuro.
O porvir.

Dia desses, final de ano, me dei conta de que meus amigos todos
estavam indo viajar, passar o reveillon fora.
E me percebi um tanto só.
Quase ficando triste, o primeiro pensamento que me veio foi:
tudo bem são só alguns dias, passam rápido.
Logo tudo volta ao normal e
entramos todos na roda viva de novo.

Mas, de repente, uma luz se acendeu na minha mente
e tive a consciência clara e explícita da importância do dia de hoje.
Hoje é tudo o que tenho para construir o amanhã.

Então, conscientemente, não quero mais
que o tempo “passe batido”, escorrendo pelas minhas mãos.

Ao contrário,
quero estar presente e atenta a cada segundo,
a cada minuto, a cada hora,
cuidando para que todos os momentos do meu dia
sejam preenchidos pelas qualidades da minha alma,
por pensamentos, palavras e atos positivos,
úteis e prósperos.

As notícias não são boas na TV?
Não preciso ver. Mudo de canal, desligo, vou ler, meditar,
preencher minha mente com o bem.
Na tela da minha mente consigo enxergar um mundo perfeito.

Hoje é um papel em branco
onde escrevo e desenho o meu futuro.
Hoje é o único caminho que me leva,
ou mais fundo na idade do ferro,
ou de volta à idade do ouro.
Eu quero voltar para a idade do ouro e posso.
Eu tenho os instrumentos.
Eu tenho livre escolha.

Forma & Conteúdo

É preciso dar forma ao conteúdo.
Mas qual é o conteúdo?
O que está na minha ou na sua cabeça?

Cabeça de prego, a minha,
que sempre aceita as marteladas.

De bagre, é a sua que nada.
Nada de conteúdo.

A água é um conteúdo
que toma a forma do objeto que a contém
Não só a forma mas a cor também.
Que personalidade fraca.
Eu já tive a personalidade da água.
Costumava adaptar meu conteúdo e cores
aos formatos propostos. Impostos.
Só pró-forma.

Agora sou mais líquida, mais colorida.
Escorro pra onde quero.
E em sendo líquido, prefiro o que borbulha.
Champanhe em taça de cristal.
É isso.

Agora sim o entendimento final.
"A taça é o conteúdo de si mesma"
Taça de cristal e champanhe.
Um feito para o outro.
Não dá para tomar champanhe
em xícara de café, nem café em taça de champanhe.
Uma taça com champanhe.
Eis o conteúdo do prazer em si mesmo.

Trato Abstrato.

O trato que você me dá é tão abstrato
que às vezes me abstraio de sentir o seu contato.

Pra tudo na vida tem solução.
Só para a morte não tem solução.
Claro! Não existe solução para a morte
porque ela em si é a solução para a vida.

Tudo converge para a morte.
Tudo converge para Deus
Então Deus é a morte.

No princípio Deus imaginou tudo.
E como tudo estivesse em si mesmo,
num ato de amor/ódio, implodiu e explodiu,
já que podia ocupar o espaço interno e externo.

Neste Big-Bang, zilhares de átomos divinos
se espalharam pelo universo
mantendo a ligação atômica com a implosão.
Tudo o que existe contém o átomo divino,
que voltará ao todo com a morte – a implosão –

Se isso for verdade, tudo o que fizemos até hoje
para proteger a vida, evitando a morte, nos afasta de Deus.
Certo então estariam os assassinos,
os suicídas que, de alguma forma,
levam os átomos de volta ao seu Núcleo.

O Ser Ego é a minha condição
de Ser condicionado.

É preciso soprar o vento
Para que as coisas mudem de lugar.

É preciso soprar o vento para erguer o véu
Que esconde meu verdadeiro eu.

Fica! O que significa?

Se me guiar pela rima, talvez seja

Estar
Aceitar
Tentar
Acertar
Errar
Consertar
Continuar
Lutar
Ganhar
Encontrar
Partilhar
Afagar
Vibrar
Buscar
Mudar
Combinar
Sonhar
Ponderar
Realizar
Estreitar
Abraçar
Confortar
Suportar
Beijar
Dar
Doar
Voar
Caminhar
Cuidar
Perdoar
Voltar
Recomeçar
Emocionar
Idealizar
Cantar
Dançar
Alcançar
Respeitar
Confiar
Confessar
Revelar
Reverenciar
Criar
Aflorar
Almejar
Dedicar
Brindar
Comemorar
Arejar
Transformar
Clarear
Iluminar
Propiciar
Apaziguar
Equilibrar
Celebrar
Tocar
Amar


Partir
Então, o que seria?

Fugir
Cair
Punir
Dividir
Fingir
Destruir
Mentir
Competir
Sumir
Explodir
Implodir
Impingir
Omitir
Repelir
Oprimir
Proibir
Iludir
Confundir
Repetir
Resistir
Impedir
Concluir
Reprimir
Ferir
Desistir
Ruir

Entretanto,
Como a vida não segue métrica
Posso muito bem ter me enganado
Trocando os significados

Mas enfim,
Verbos e rimas à parte,
Entre partir e ficar,
Escolhi a opção 2,
Por ser a dois.
Por significar
Muito mais.

Por certo,
Não sei ao certo,
Como seria partir.
Mas posso sentir que ficar,
Ao menos pra começar,
Ao invés da solidão,
Me traz de volta
A inspiração.

Enfrentamento

Vem,
Entra comigo
No meu quarto escuro
Vem comigo enfrentar os bichos
das minhas sete cabeças.

Respire comigo
Para que eu sinta a sua presença
Segura minha mão
Para que eu não enfraqueça
Carregue comigo as sete chaves
Dos meus sete eus.

Confusos e rebelados
Neste momento,
Cada um dos meus eus,
Precisa de atenção e espaço
Para se sentir inteiro, pleno e verdadeiro
Para enfim conviver em paz
Com as outras faces, também verdadeiras, de mim.

Lanterna, candeeiro, tocha, menorah,
Fio de Ariadne?
Sete são os caminhos
Que instrumentos levar?
Ou de nada me adiantará, o que eu levar de fora?
Por onde começar?
Qual dos meus eus
devo enfrentar primeiro?

Tenho pra mim que será melhor
Encarar logo a dor mais premente.
Que incomoda mais
A solidão.

Começando por aí, e a dois,
Vou estar mais forte e menos só
Para continuar.

Vem comigo.
Testemunha a primeira das minhas batalhas e reconciliações.
E com você, aqui diante do meu quarto escuro.
Declaro que nada mais faço sozinha a partir de agora.

Mas será que basta o verbo escrito?
Ou terá ele que ser conjugado em alto e bom som
Para que se faça a luz?
Pena não ser o sentimento matéria
Pra que, como na física quântica,
Salte meu medo, como onda,
sem passar pela partícula sofrimento,
Ao estado de força e poder.

Caixa de Pandora

Posso tocar e sentir meu corpo.

Meus olhos multivision, bem na frente do meu rosto,
Enxergam paisagens e tudo mais que conseguem ver.

Meu coração,
mais forte, mais fraco,
Às vezes sinto pulsar no peito,
na garganta, sob a pele.

Minha cabeça,
no topo de tudo,
pensa alcançar o distante.

Mas afinal,
onde se esconde a minha alma?
Guardiã de todos os meus males e bens.
Ponto inatingível.
Ponto de encontro.
Amor e dor.

Estará no piscar dos olhos
Esse ínfimo fragmento de tempo
Entre o nada ver e o tudo enxergar?

Estará no ponto central do pendular do coração
Só tocado de raspão?

Ou será uma linha imaginária raiada
Que me rasga de alto a baixo e em todos os sentidos?

Que sentidos?
Que sentido tem minh'alma?
Que sentido tem minha vida?

Talvez seja minha alma a própria dúvida.
Deus, pai e mãe.
E eu a dúvida entre ser
um e outro
Ou não ser
nem um, nem outro.

Deus, bem e mal.
E eu o julgamento,
A escolha entre um e outro
Ou nem um nem outro.

A incerteza do meio do caminho.
Sufocada entre dois
Ou abandonada por ambos.

Estará no infinito e indescritível
Momento da troca de olhar com a pessoa amada?
Quando tudo se acha e tudo se perde.
Quando tudo se sabe e tudo se desconhece.
Quando se deixam envolver num turbilhão
todos os meus sentidos?

Estará minh'alma no sexo?
Não o aparelho, nem um qualquer ato.
Mas o encontro de fato.
O momento exato onde 1+1 é igual ao todo.

Ou estará minh’alma fora de meu corpo.
Em algum lugar etéreo
entre eu e o outro
Um sopro que posso vislumbrar mas não consigo tocar.
Eu, meia alma, alma penada, buscando minh’alma gêmea.
E isso haverá?

Quem compartilha meus sentimentos, meus desejos,
Todos os sentidos deste meu perdido ser?

Oh! Alma ímpar, alma sem par.
O que é e onde estará?

Que viva alma será capaz de encontrar, decifrar
E abrir, de par em par, a minha alma?

Alma única, última esperança.
Caixa de pandora.

Ausência

Ausência
Nada me ocorre
Nada me vem à mente
Pensamento feito ar
Parou no tempo
E o tempo, ficou suspenso no ar.

Espera
Olhos capturados, feito inseto aprisionado em âmbar,
escaneiam preguiçosos a janela
Céu entrecortado - concreto, vidro, aço -
nada vêem, nada percebem, nada querem
a não ser a estática dos olhos de estátua
cuja alma mora distante
ou vagueia ao sopro do vento
pra qualquer canto,
pra onde for, tanto faz.
Preguiça?
Ou será assim o sono eterno?

Deserto
Tudo tão distante
Tão longe de acontecer
Cadê? O quê?
Ruim ficar só na multidão
Pior estar só na solidão.
Vida vazia. Perdi a poesia.

Angústia
O que devo ou não fazer?
Desistir. Continuar. Mudar o rumo. Fugir.
Pra onde vou? Não sei.
Coração apertado, às vezes acelerado,
outras quase sem bater.
Tanta ansiedade, tanta incerteza
Minha alma fraqueja, prestes a sucumbir.

Fantasia
O medo se faz de grande criador
Inventa ilusões, distorce situações,
Gera monstros, me assusta com seus dragões.

Reencontro
Tem mesmo uma luz no fim do túnel?
Olhos de céu e mar, lavam meus medos,
enxugam minha dor, apaziguam minha alma,
tudo iluminam num só piscar.
Quem é você que leva e traz a minha paz?

Hoje é. Amanhã não será.

O amanhã é abstrato,
totalmente inexistente.
Nada além de uma palavra,
um pensamento na cabeça da gente.

E, pensando bem,
o amanhã nunca aconteceu,
nunca vai acontecer.
Porque sua possibilidade de vir a ser é quando vira hoje.
E hoje é hoje, não amanhã.
Tempo subjetivo.
Tempo que só existe quando deixa de existir.

E o que não existe, não é verbo que se conjugue.
Futuro perfeito. Futuro mais que perfeito.
Tudo invenção. Tudo ilusão.

Amanhã é a casa onde mora a ilusão da humanidade.
Espécie tão cheia de possibilidades,
Apostando o tempo todo na impossibilidade.

A melhor versão de mim

Tem uma versão de mim que tudo sabe.
Tudo pode.

Tem uma versão de mim que nada atinge,
nada abala, em nada se altera.

Tem uma versão de mim que não se entristece,
não adoece, não envelhece.

Uma versão de mim eternamente jovem e bela,
inatingível pelo mal, pelo medo, pela dor.

Uma versão de mim feita de paz, amor, felicidade,
poder, pureza, equilíbrio, verdade.

Minha versão genuína.
Tão íntegra brilha feito diamante.
Sem vícios, sem apego.
Não possui nada e tudo tem.

Como a imensidão do mar que é para todos
E não é de ninguém,
Como o infinito azul do céu que a ninguém pertence.
Como o calor e o brilho do sol, disponível para todos
Mas que ninguém pode reter.

Estive por muito tempo esquecida
desta minha versão perfeita.
Imaginando-a para sempre perdida ou escondida
Num distante e imaginário paraíso.

Imaginário é o que vivi como sendo real.
Pois nada é mais real do que minha versão original.

E que alegria saber que ao contrário do que eu pensava,
sobre estar perdida, longínqua, inacessível
está tão perto, tão presente, bem no centro da minha testa.

Um ponto de luz, uma estrela brilhante,
Um caminho de volta ao criador.
Basta um querer, basta um pensamento.