sábado, 31 de outubro de 2009

Rotina

Rotina é acordar de manhã e ver-se não o mesmo,
mas diante de um mesmo espelho!

Houve um tempo em que olhavamos nosso descansado
e renovado aspecto no reflexo dos lagos, riachos e rios
que, tão naturais, tão únicos, sempre levavam para longe
de nossos rostos qualquer sombra de tristeza ou desgosto.

Rotina é comer pão dormido, margarina congelada,
tomar leite enlatado.

Houve um tempo em que nos servíamos de alimentos
colhidos na hora, ofertados com tanta generosidade
em sabor e frescor.

Rotina é ferir nossos ouvidos
com os barulhos das nossas inventivas,
repetitivas e monocórdias máquinas.

Houve um tempo em que despertávamos
com o canto dos passarinhos.
Suave e renovada melodia,
ensejando um feliz dia.

Rotina é ir para o mesmo e maçante trabalho,
equilibrando nosso corpo sem eixo por calçadas mal ajambradas.
Passar o dia entre quatro paredes,
guidados por fakes relógios digitais.
Ouvir as mesmas conversas sobre um feito qualquer,
as mesmas reclamações sem objetividade,
sem busca reais por soluções.

Rotina é voltar para casa de cabeça baixa
ao fim de um mecânico dia.
Sentar no sofá, dar um play na tv
e ficar extasiado diante das mesmices,
das caretices e de uma infinidade de más notícias.

Houve um tempo em que sabíamos contemplar
os sempre novos nascer e pôr do sol.
Admirar-se diante da natureza,.
Belo quadro que nunca é o mesmo,
nunca se cansa de se aprimorar, só para nos encantar.

Uma folha que cai, uma borboleta que pousa numa flor,
uma flor que se abre, um fruto que se oferece,
o sol que brinca de esconde-esconde entre as nuvens,
uma revoada de pássaros,
uma onda que vem mais forte,
outra que acaricia a areia,
a lua que desponta,
o brilho das estrelas.

Nosso olhar esquecido se perdeu
na rotina das nossas invenções
sem enxergar como é novo
cada segundo de cada dia.

Rotina é mergulhar embevecidos com nossas “criações”
ignorando as dádivas que nos chegam a cada instante
de um Criador que não se repete e não tem ninguém para plagiar.

Rotina é fruto de nossa soberba, de nossa falta de humildade,
de nossa falta de conhecimento e reconhecimento
de que somos muito pouco ou quase nada.
Uma semente que, por se achar perfeita,
se mantém fechada e incompleta.

Rotina.
Prisão criada pelo homem, tão insignificante
diante do infinito renovar da Natureza.

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