sábado, 31 de outubro de 2009

Poema Cabalístico

Ando a errar por este mundo desde o início dos tempos,
Já visitei os quatro reinos e de todos,
Tenho uma herança gravada em mim.

Um leito de rio de muitas quedas
E afluentes errantes,
Buscando encontrar o Oceano.

Não que eu não saiba o caminho.
Já o refiz tantas vezes.
Tantas quantas também já me perguntei:
De onde vim? Para onde vou?

Mas é que os encantos das margens
sempre me prendem a atenção.
Me tiram do centro e,
numa fração de segundo,
se vai por água abaixo a intenção.

Um caminho de perdição
é o percurso de meus ancestrais.
Tantos espelhos a me refletir.
E o outro não é ninguém.
Apenas mais uma versão de mim.

Preciso ser todos para me tornar UM.
E para ser todos tenho que ser nenhum.

Mas a cada desejo, quem nem é meu,
me afronta um novo eu.
Multidão implacável
que um dia terei de enfrentar.

Mas prossigo fugindo,
dando um tempo.
E como criança me distraio a brincar.
Buscando pelas estrelas,
entretida pelas conchinhas do mar.

Um dia, lá no princípio,
minha missão era cuidar de um magnífico jardim.
Mas diante de um palácio tão suntuoso, reclamei.
Achei pouco.

Sem credenciais para o Palácio,
nem interesse pelo Jardim,
vivo a mendicar na soleira da porta,
apontando ora o bem, ora o mal.

Quanto erro, quanta ilusão.
Já me bate a solidão.
Ergo-me aos céus já em prece
e um sentimento me diz
que é preciso ir mais fundo.
Pois no conforto da superfície
mais subo e me confundo
nesta Torre de Babel.

Bem-vinda seria a Morte.
Não a do corpo, que esta também é ilusória
e pode me pegar no sono.
Mas a morte consciente
de tantos apegos às sensações
e ilusões dos meus cinco sentidos.
Abrir mão do sofrimento
de insanos desejos
e me entregar a uma única Vontade

Nenhum comentário:

Postar um comentário